A Bíblia é, sem dúvida, o livro mais influente e amplamente distribuído pelo mundo ao longo da história. Mas como esse livro sagrado recebeu o nome "Bíblia", e quais são as diferentes maneiras pelas quais as Escrituras se referem a si mesmas?
Como veremos, os escritores bíblicos usaram uma variedade de termos para descrever o texto sagrado, cada um deles refletindo um aspecto único de sua importância cultural e espiritual.
Neste artigo, vamos explorar a origem do termo "Bíblia", o contexto de sua evolução e os nomes variados que as Escrituras receberam para si mesmas ao longo da história, revelando a profundidade e a reverência que cercam esse livro santo.
O SIGNIFICADO ETIMOLÓGICO DE "BÍBLIA"
A palavra "bíblia" tem sua origem no grego antigo e remonta à folha de papiro, uma planta utilizada para fabricar um tipo de papel da antiguidade denominada pelos gregos de "biblos". Um rolo de papiro, ou seja, um "livro", era chamado de "biblion" no singular, e vários destes rolos constituíam uma "bíblia", isto é, uma coleção de livros.
Portanto, "bíblia" é o mesmo que "livros" em nosso português. Em sua epístola a Timóteo, por exemplo, Paulo diz: "Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo, e os livros (gr. βιβλία - biblia), principalmente os pergaminhos" - II Timóteo 4.13
Essa passagem exemplifica como o termo "bíblia" era usado na época de maneira mais ampla, sem exclusividade para o texto sagrado.
Também podemos citar o livro de Apocalipse, no qual o apóstolo João escreveu: "E vi os mortos, grandes e pequenos, que estavam diante de Deus, e abriram-se os livros (gr. βιβλία - biblia); e abriu-se outro livro (gr. βιβλίον - biblion), que é o da vida. E os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros (gr. βιβλία - biblia), segundo as suas obras" - Apocalipse 20.12
Assim, fica-nos evidente que naquela época o termo "bíblia" não se aplicava exclusivamente à Palavra de Deus como é nos dias de hoje. Já seu singular, "livro" ou "biblion", é encontrado referindo-se a livros como o do profeta Isaías em Lucas capítulo 4 verso 17: "E foi-lhe dado o livro (gr. βιβλίον - biblion) do profeta Isaías...".
No entanto, se o termo hoje tão conhecido não se aplicava exclusivamente à Palavra de Deus, como os escritores bíblicos se referiam à Bíblia naquela época?
TERMOS USADOS PARA SE REFERIR AO TEXTO SAGRADO
Na antiguidade, os escritores bíblicos e os seguidores da tradição judaico-cristã usavam outras palavras para descrever as Escrituras. Aqui estão alguns dos termos mais comuns e seu significado no contexto bíblico:
Escrituras
A palavra "Escrituras" aparece em várias passagens bíblicas, como em Mateus 21.42, onde Jesus pergunta: "Nunca lestes nas Escrituras (gr. γραφαῖς - graphais)...?" Tal termo notadamente referia-se aos textos inspirados e reconhecidos como Palavra de Deus.
Sagradas Letras
Outra forma de se referir à Bíblia era "Sagradas Letras" (gr. ἱερὰ γράμματα - hiera grammata), termo utilizado para enfatizar a santidade e origem divina dos textos, como em II Timóteo 3.15.
Livro do Senhor
No Antigo Testamento, a expressão "Livro do Senhor" aparece no livro do profeta Isaías, destacando o caráter autoritativo das Escrituras e a associação direta com Deus: "Buscai no livro do Senhor (heb. יְהוָה֙ סֵ֤פֶר - Yah-weh sê·p̄er) e lede; nenhuma dessas coisas falhará, nem uma nem outra faltará; porque a sua própria boca o ordenou, e o seu espírito mesmo as ajuntará" - Isaías 34.16
A Palavra de Deus
Tal expressão é utilizada na epístola aos Hebreus 4.12 para descrever a Bíblia como viva e eficaz, capaz de discernir os pensamentos e intenções do coração humano: "Porque a palavra de Deus (gr. λόγος τοῦ Θεοῦ - logos tou Theou) é viva, e eficaz, e mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até à divisão da alma, e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração".
Os Oráculos de Deus
Em Romanos 3.2 o apóstolo Paulo usa o termo "Oráculos de Deus" (gr. λόγια τοῦ Θεοῦ - logia tou Theou) para indicar as revelações divinas confiadas aos judeus. Segundo o apóstolo, um dos itens mais vantajosos de ser um judeu consistia exatamente no fato de que a eles, e a nenhuma outra nação, foi atribuído o privilégio singular de serem os guardiões dos mandamentos, predições e promessas de Deus.
A PALAVRA "BÍBLIA" COMO REPRESENTAÇÃO DA UNIDADE DAS ESCRITURAS
Em face dos nomes que os escritores bíblicos utilizaram para se referir à Palavra de Deus, por que hoje em dia a chamamos de "Bíblia"? A resposta é simples! Porque é exatamente isso que encontramos nela: Uma coleção de 66 livros que formam um conjunto unificado e coeso da santa e perfeita Palavra de Deus.
Como explica Antônio Gilberto, um saudoso pastor e teólogo assembleiano, essa unidade bíblica é tão forte que a palavra "Bíblia", originalmente plural, passou a ser considerada no singular, refletindo o conceito de "o Livro dos livros" -- o Livro por excelência.
REFLEXÃO
Ao investigar a origem do termo "Bíblia" e os diferentes nomes dados às Escrituras, percebemos que a Bíblia é muito mais do que uma simples coleção de textos antigos. Ela é, na verdade, uma biblioteca de sabedoria, conselhos e promessas divinas que atravessou milênios de culturas e civilizações, permanecendo inabalável e firme até os dias atuais.
A pluralidade de nomes — como "Escrituras", "Sagradas Escrituras", "Palavra de Deus" e "Oráculos de Deus" — destaca-se como múltiplas camadas de significado e função que o texto possui, refletindo seu propósito eterno de guiar a humanidade.
Ao compreendermos esses títulos, somos lembrados de que cada palavra nas Escrituras carrega um peso espiritual e histórico. Essa riqueza nos convida a não apenas ler a Bíblia, mas a estudar e refletir sobre seu impacto em nós e em toda civilização humana.
CONCLUSÃO
Explorar a origem do termo "Bíblia" e os diferentes nomes usados para referir-se às Escrituras nos ajuda a valorizar a profundidade e a importância desse livro sagrado.
Que essa compreensão renovada sobre a Bíblia nos incentive a buscar nela respostas, consolo e crescimento espiritual, aprofundando nossa fé e nossa conexão com o Autor de toda a criação, porquanto trata-se de uma Palavra viva e eficaz, que jamais irá voltar vazia, mas, antes, cumprirá tudo o que lhe apraz.
Christo Nihil Praeponere - “A nada dar mais valor que a Cristo”
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