Gênesis não questiona a existência de Deus; ele a afirma de forma clara e categórica. Mais do que isso, o relato bíblico apresenta Deus como o criador soberano de todo o Universo. No primeiro capítulo de Gênesis, Moisés descreve os seis dias da criação, e no segundo, detalha a criação do ser humano, a coroa da criação divina.
No entanto, quem é Deus? Que recursos Ele utilizou para criar os céus e a Terra? E como realizou essa obra grandiosa? Neste estudo bíblico exploraremos o primeiro dia da criação, o marco inicial da história do Universo. Que o Senhor ilumine sua jornada de estudo!
TEXTO-BASE
Gênesis 1.1-5
No princípio, criou Deus os céus e a terra. E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas. E disse Deus: Haja luz. E houve luz. E viu Deus que era boa a luz; e fez Deus separação entre a luz e as trevas. E Deus chamou à luz Dia; e às trevas chamou Noite. E foi a tarde e a manhã: o dia primeiro.
NO PRINCÍPIO
A expressão “no princípio” em hebraico é “bereshith” (בְּרֵאשִׁ֖ית), que combina a preposição “be” (em) e o substantivo “reshith” (princípio, começo). O termo “reshith” está intimamente ligado à ideia de início e marca o ponto de partida do tempo, algo que só passa a existir a partir da criação.
De acordo com Matthew Henry, “no princípio” refere-se ao momento exato em que o tempo, tal como o conhecemos, teve início. Ele afirma: “Princípio é o começo do tempo, quando este relógio do universo foi colocado para funcionar pela primeira vez”.¹ Esse princípio é o primeiro milésimo de segundo da existência do Universo, um ponto que revela a soberania de Deus sobre todas as coisas.
Sendo Deus eterno e atemporal, Ele é pré-existente ao tempo e à criação. O Salmo 90.2 declara: “Antes que nascessem os montes e se formassem a terra e o mundo, de eternidade a eternidade, tu és Deus”. Assim, a frase “no princípio” marca o início do tempo cronológico, ou seja, um tempo que é visto de forma sucessiva e linear, constituindo-se em passado, presente e futuro.
CRIOU DEUS
O verbo “criar” em hebraico é “bara” (בָּרָא), usado exclusivamente para descrever a criação divina. Esse verbo enfatiza a capacidade de Deus de criar ex nihilo, ou seja, a partir do nada, algo que nenhuma outra criatura é capaz de fazer.
O uso de bara reitera a distinção clara entre Deus e a criação. Enquanto o homem pode “fazer” ou “formar” (asah, yatsar), ele nunca pode criar no sentido de bara. Essa separação destaca a dependência da criação em relação a Deus, não apenas em sua origem, mas em sua existência contínua e sustento (cf. Hb 1.3).
Somente Deus é capaz de criar sem depender de matéria-prima.
O Salmo 33.8-9 reforça essa verdade: “Tema toda a terra ao Senhor; temam-no todos os moradores do mundo. Porque falou, e tudo se fez; mandou, e logo tudo apareceu”. Esse ato de criação demonstra a autoridade e o poder majestoso da Palavra de Deus.
MAS QUEM É DEUS?
A palavra utilizada por Moisés é “Elohim” (אֱלֹהִ֑ים). O termo “ayil”, que é uma palavra que significa “força” e “poder”, deu origem à palavra hebraica “Eloa” (“Eloí” em aramaico), que é um substantivo masculino que significa “Deus”.
Essa origem ressalta a força e poder de Deus, o Todo-Poderoso.
Sua forma curta é “El”, conforme se observa em diversas passagens bíblicas, principalmente relacionadas a nomes. Emanuel, por exemplo, traz a forma curta El ao final e expressa o significado “Deus conosco”.
“Elohim”, no entanto, é a forma plural. Embora o plural possa sugerir multiplicidade, o verbo no singular (bara) aponta para a unicidade e a singularidade de Deus. A presença da Trindade é, portanto, sutilmente evidenciada desde o início da criação, uma verdade mais plenamente revelada nas Escrituras posteriores.
OS CÉUS E A TERRA
A expressão “céus e terra” é uma forma de referir-se à totalidade do cosmos. Alguns estudiosos sugerem que essa expressão no verso primeiro abrange todos os dias da criação, mas uma análise cuidadosa mostra que não é bem assim.
OS CÉUS
A palavra hebraica para céus é “shamayim” (שָׁמַיִם), uma forma plural que pode referir-se a diferentes tipos de céu. Esses céus são mencionados em diversos contextos, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, e podem ser divididos em três categorias principais.
- Céu Atmosférico:
O céu atmosférico é o mais próximo da Terra e refere-se à camada onde existem nuvens, ventos e a atmosfera terrestre. É o espaço onde ocorrem fenômenos meteorológicos e onde as aves voam. Este céu é mencionado em passagens como Gênesis 1.20: “E voem as aves sobre a face da expansão dos céus”.
Este céu é essencial para a vida na Terra, pois contém o ar que respiramos e é a região onde se formam as chuvas e outros fenômenos climáticos que sustentam os ecossistemas terrestres. - Céu Estelar:
O céu estelar é a vasta extensão do espaço onde estão localizados os corpos celestes, como o Sol, a Lua, os planetas e as estrelas. Este céu é mencionado em passagens como Gênesis 1.16-17: “E fez Deus os dois grandes luminares: o luminar maior para governar o dia e o luminar menor para governar a noite; fez também as estrelas. E Deus os pôs na expansão dos céus para iluminar a Terra”.
Este céu sideral simboliza a magnitude e o poder criativo de Deus, que ordenou e posicionou os astros no universo. - Céu dos Céus:
O céu dos céus, conhecido como o “terceiro céu” ou “paraíso”, é o lugar onde Deus habita e onde os anjos e seres celestiais estão. Este céu é mencionado em passagens como I Reis 8.27, em que Salomão ora e reconhece: “Mas, na verdade, habitaria Deus na terra? Eis que os céus, e até o céu dos céus, te não podem conter...”.
Compreender os diferentes tipos de céus mencionados na Bíblia nos ajuda a ter uma visão mais ampla da criação e do poder de Deus. Além disso, cada céu reflete uma parte do Seu caráter e propósito: o primeiro mostra Seu cuidado e sustento, o segundo demonstra Sua imensidão e glória, e o terceiro revela Sua santidade e soberania.
A TERRA
O termo “terra" (heb. “erets” - אֶרֶץ) é multifacetado e aparece mais de 2.500 vezes no Antigo Testamento, podendo significar solo, território ou, como no contexto de Gênesis 1.1, a matéria-prima universal. Como enfatiza Matthew Henry, essa “terra” representa a substância inicial a partir da qual todo o restante foi formado.³
Adauto Lourenço observa que a expressão “céus e terra” inclui os três elementos fundamentais com os quais a ciência trabalha: tempo (“no princípio”), espaço (“céus”) e matéria (“terra”)⁴, o que revela a complexidade e a precisão do ato criativo divino.
Antônio Mesquita afirma o mesmo⁵ e o comentarista bíblico Hernandes Dias Lopes, na mesma linha de raciocínio, diz que o texto poderia ser traduzido assim: “No princípio, Deus criou o espaço e a matéria, e a matéria criada era inicialmente sem forma e inabitada”.⁶
Desta maneira entende-se que terra é, no primeiro versículo de Gênesis, toda a matéria presente no Universo.
E HAVIA TREVAS
A palavra “trevas” (heb. “choshek” - חשֶׁךְ) significa escuridão, mas não carrega um significado negativo intrínseco. No versículo 5, Deus chama a escuridão de “Noite”, o período de descanso e preparação para o dia seguinte. No entanto, após a Queda as trevas passaram a simbolizar o sofrimento e perdição (cf. Sl 30.5; II Co 4.6), mas inicialmente não possuíam essa conotação.
O fato de Deus criar durante um período de escuridão nos ensina que Ele opera em qualquer situação.
“E houve tarde e manhã: o dia primeiro” reflete o padrão divino seguido até hoje pelos judeus, começando o dia ao pôr do sol, ou seja, com o início da noite.
E DISSE DEUS: HAJA LUZ
Das trevas, Deus ordena que a luz resplandeça. Essa luz não é o Sol ou as estrelas, que só foram criados no quarto dia, mas uma forma inicial de energia que sustenta a vida e o calor. Essa luz é um reflexo da própria presença de Deus, pois Ele é a fonte de toda a luz (cf. I João 1.5).
Assim como a luz resplandeceu em meio às trevas, Deus pode trazer clareza e esperança em qualquer situação de escuridão que enfrentamos. O Criador ainda altera circunstâncias e muda cenários.
CONCLUSÃO
O primeiro dia da criação revela um Deus que transcende o tempo e a matéria, capaz de criar tudo a partir do nada. Ele é a fonte da luz que dissipa as trevas e estabelece ordem. Que possamos reconhecer a grandiosidade desse Deus e confiar em Seu poder que transforma qualquer circunstância.
Christo Nihil Praeponere – “A nada dar mais valor que a Cristo”.
REFERÊNCIAS
¹ HENRY, Matthew. Gênesis a Deuteronômio. CPAD, 2020, p. 3.
² ANDRADE, Claudionor de. O Começo de Todas as Coisas. CPAD, 2015, p. 23.
³ HENRY, Matthew. Gênesis a Deuteronômio. CPAD, 2020, p. 3.
⁴ LOURENÇO, Adauto. Gênesis 1 & 2. Fiel, 2011, p. 77-78.
⁵ MESQUITA, Antônio. Pontos Difíceis de Entender. CPAD, 2021, p. 17.
⁶ LOPES, Hernandes Dias. Gênesis, o Livro das Origens. Hagnos, 2021, p. 53-24.
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