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A JORNADA DE ABRAÃO: EDIFICANDO ALTARES AO SENHOR

Ilustração de Abraão segurando um cajado, com vestes típicas do Oriente Médio antigo, simbolizando sua jornada de fé e obediência a Deus. Fundo iluminado representando a presença divina em sua caminhada.
A jornada de Abrão (posteriormente chamado de Abraão) é uma das narrativas mais ricas e impactantes da história bíblica, refletindo um caminho de obediência, desafios e muita fé. Após atender ao chamado divino e deixar sua terra natal, Ur dos Caldeus, ele enfrentou uma série de provações que moldariam sua caminhada com o Senhor.

Entre essas provações, destaca-se sua chegada à terra prometida e a descoberta de que aquela terra já estava ocupada pelos cananeus. Diante dessa realidade, a reação de Abrão se torna um exemplo de confiança inabalável. Em vez de murmurar ou questionar a promessa divina, ele continuou avançando e, ao longo do caminho, edificou altares a Deus.

Esses altares não eram apenas construções físicas, mas expressões de fé, adoração e compromisso com o Senhor. Neste estudo, analisaremos a chegada de Abrão à terra de Canaã, sua reação ao encontrar os cananeus e o significado da edificação de altares no contexto bíblico, bem como as lições espirituais que podemos extrair dessa narrativa.

TEXTO-BASE


Gênesis 12.6-8

E passou Abrão por aquela terra até ao lugar de Siquém, até ao carvalho de Moré; e estavam, então, os cananeus na terra. E apareceu o Senhor a Abrão e disse: À tua semente darei esta terra. E edificou ali um altar ao Senhor, que lhe aparecera. E moveu-se dali para a montanha à banda do oriente de Betel e armou a sua tenda, tendo Betel ao ocidente e Ai ao oriente; e edificou ali um altar ao Senhor e invocou o nome do Senhor.

CANANEUS À VISTA: UM DESAFIO À FÉ


Após percorrer aproximadamente 1.600 km desde Ur dos Caldeus até Canaã, Abrão finalmente chegou à terra que Deus havia lhe prometido. No entanto, ao chegar, ele encontra um obstáculo significativo: A terra já possuía donos e estava ocupada pelos cananeus.

Os cananeus eram descendentes de Canaã, filho de Cão, neto de Noé (Gn 10.6). Historicamente, essa civilização habitava a região de Canaã e se destacava por sua cultura idólatra e moralmente corrupta. Suas práticas incluíam adoração a vários deuses, como Baal e Astarote, além de rituais religiosos imorais.

Diante dessa situação, Abrão poderia ter se sentido enganado ou mesmo desmotivado. Deus havia lhe prometido uma terra, mas ela já possuía moradores. Muitos teriam questionado: "Será que Deus realmente falou comigo?" ou "Deus me trouxe até aqui para enfrentar dificuldades?"

Contudo, o mais notável nesse episódio é que Abrão não murmurou, não questionou a Deus e não duvidou da promessa. Ele permaneceu firme na fé, confiando que o Senhor cumpriria sua palavra no tempo determinado.

Este fato nos traz um grande ensinamento. Muitas vezes Deus também nos faz certas promessas que, ao olhos humanos, parecem impossíveis de se cumprir à luz das circunstâncias que pairam ao nosso redor. O exemplo de Abrão nos exorta, portanto, a depositarmos nossa confiança no Senhor e esperar o Seu tempo, tendo sempre em vista que "o justo viverá pela fé" (Hc 2.4; Rm 1.17).

DEUS APARECE OUTRA VEZ A ABRÃO


A primeira vez que Deus apareceu a Abrão foi em Ur dos Caldeus (At 7.2). Agora, já em Canaã, Deus lhe aparece novamente, desta vez na cidade de Siquém, e lhe faz uma promessa impactante: "À tua semente darei esta terra" (Gn 12.7).

O detalhe interessante é que, naquele momento, Abrão ainda não tinha filhos e sua esposa, Sarai, era estéril (Gn 11.30). Segundo a visão racional que o homem costuma ter das coisas, isso tornava a promessa ainda mais desafiadora.

No entanto, a resposta de Abrão à aparição de Deus não foi questionar, duvidar ou exigir um sinal. Sua reação foi um ato de fé: ele edificou um altar ao Senhor.

Esse altar era um símbolo de sua confiança na promessa divina e de sua submissão total a Deus. Mesmo sem entender como a promessa se cumpriria, Abrão reafirmou sua devoção ao Senhor e continuou sua jornada firmemente.

EDIFICANDO ALTARES: UMA EXPRESSÃO DE GRATIDÃO E ADORAÇÃO


Os altares eram estruturas que costumavam ser feitas de pedras brutas ou barro, onde ofertas e sacrifícios eram apresentados a Deus como expressão de adoração e compromisso. O primeiro altar registrado na Bíblia foi edificado por Noé após o dilúvio (Gn 8.20) e, depois, vemos Abraão, Isaque, Jacó, Moisés e muitos outros levantando altares como forma de desenvolver comunhão com Deus.

Altares Edificados por Abrão

A Bíblia registra que Abrão edificou vários altares em sua jornada. Embora construir altares exigisse esforço e dedicação (pois era trabalhoso fazê-lo), somente no trecho estudado já podemos observar dois altares que ele edificou:

  1. Um Altar em Siquém (Gn 12.7) Primeira parada na terra prometida. Esse altar foi construído em resposta à segunda aparição de Deus a Abrão.

  2. Um Altar Entre Betel e Ai (Gn 12.8) – Local onde Abrão invocou o nome do Senhor, indicando sua prática de oração e adoração.

Qual o Significado de Invocar o Nome do Senhor?

A expressão significa clamar, chamar pelo nome ou mesmo abordar uma pessoa conhecida. Invocar o nome do Senhor, portanto, não era apenas um ritual, mas um sinal de dependência e reconhecimento de Sua presença. Essa prática implicava um relacionamento com um Deus conhecido, que havia se revelado pelo nome à humanidade.

Esse hábito de "invocar o nome do Senhor" teve início com Sete e Enos (Gn 4.26) e continuou ao longo da história dos patriarcas. Há um artigo específico sobre este assunto em nosso site: O Legado de Sete e Enos – Invocando o Nome do Senhor.

O fato de Abrão edificar altares e invocar ao Senhor nos ensina que ele não apenas ouvia a voz de Deus, mas também adorava e buscava ao Senhor regularmente. Sua fé era demonstrada de forma prática, visível e pública, sem ter vergonha dos povos ao seu redor.

Matthew Henry, ao comentar sobre o tema, destacou essa atitude de Abrão:

"Onde quer que Abrão tivesse uma tenda, Deus tinha um altar, e um altar santificado pela oração. Pois ele não somente se preocupava com a parte cerimonial da religião, a oferta do sacrifício, mas com o dever natural de buscar o seu Deus, e de invocar o seu nome".¹

Essa prática nos ensina que nossa fé precisa ser ativa e pública. Não basta apenas crer; também é necessário testemunhar.

Pense a Respeito

Você tem vergonha de servir a Deus em público ou, como Abrão, também tem edificado altares por onde passa?

APLICAÇÃO PRÁTICA


A história de Abrão nos desafia a refletir sobre nossa própria jornada espiritual. Algumas perguntas importantes que podemos nos fazer são essas:

  • Como reagimos quando enfrentamos obstáculos ao longo do caminho? Murmuramos ou confiamos em Deus?

  • Estamos edificando altares espirituais por onde passamos a fim de testemunhar nossa fé em público? Ou será que temos vergonha de expressar nossa fé diante dos outros?

Lembremo-nos de que assim como Abrão construiu altares para Deus em sua jornada, devemos construir altares espirituais em nossa vida. Isso significa manter um relacionamento diário com Deus por meio da oração, do estudo da Palavra e do testemunho cristão público. Afinal de contas, os homens precisam ver a luz que há em nós, não é mesmo?

CONCLUSÃO


A chegada de Abrão à terra prometida e a construção de altares ao Senhor são momentos marcantes em sua jornada de fé. Apesar dos desafios, ele não duvidou das promessas divinas nem recuou diante dos cananeus, mas demonstrou sua confiança por meio da adoração e da obediência, testemunhando de Deus a todos que estavam por perto.

Hoje, somos chamados a seguir o mesmo exemplo. Devemos confiar em Deus, mesmo quando as circunstâncias parecem difíceis, e manter uma vida de adoração contínua, construindo altares espirituais que nos aproximam do Senhor e engrandecem o Seu nome.

Que possamos aprender com a vida de Abrão e, assim como ele, viver uma fé autêntica, inabalável e pública.

Jesus disse: "Portanto, qualquer que me confessar diante dos homens, eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus. Mas qualquer que me negar diante dos homens, eu o negarei também diante de meu Pai, que está nos céus" (Mt 10.32,33).

Christo Nihil Praeponere – “A nada dar mais valor que a Cristo.”


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NOTA

¹ HENRY, Matthew. Comentário Bíblico do Antigo Testamento. CPAD, 2020, p. 78.

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