Você já sentiu que Deus o está chamando para algo maior, algo que rompa barreiras, que desafie suas rotinas e até mesmo as expectativas de quem está ao seu redor? Essa pergunta pode ser muito atual, mas também remete a uma história bem antiga, do tempo em que um homem, vivendo numa próspera cidade idólatra, recebeu um chamado inesperado do Deus real e verdadeiro.
Esse homem é Abrão (posteriormente chamado Abraão), e o episódio do seu chamado continua a inspirar milhões de pessoas ao redor do mundo. Neste artigo abordamos em profundidade sua origem, o processo de sua jornada e o que podemos aprender desse relato tão antigo e, ao mesmo tempo, tão relevante. Que o Senhor te abençoe!
TEXTO-BASE
Gênesis 12.1-3
"Ora, o Senhor disse a Abrão: Sai-te da tua terra, e da tua parentela, e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei, e engrandecerei o teu nome, e tu serás uma bênção. E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra".
A TERRA DE ABRÃO: UR DOS CALDEUS
Para entendermos o contexto de Abrão, precisamos voltar nossos olhos para Ur dos Caldeus, uma das cidades mais importantes do Crescente Fértil, situada ao sul da Mesopotâmia (atual Iraque). Banhada pelos rios Tigre e Eufrates, Ur desfrutava de grande prosperidade econômica, além de forte desenvolvimento cultural.
Era reconhecida pela música, pela poesia, pela medicina, e possuía um imponente zigurate que simbolizava o seu prestígio regional.
Foi nesse ambiente repleto de crenças politeístas que Tera, pai de Abrão, vivia com seus filhos: Abrão, Naor e Harã. Harã morreu em Ur, deixando seu filho Ló sob os cuidados do clã familiar. A cidade era dedicada à adoração de vários deuses, o que levou toda a família de Tera a uma prática espiritual idólatra e bastante distante do Deus único.
Evidência Bíblica
A base bíblica para tal afirmação está em Josué 24.2: “Assim diz o Senhor, Deus de Israel: Dalém do rio, antigamente, habitaram vossos pais, Tera, pai de Abraão e pai de Naor, e serviram a outros deuses”. Este versículo não deixa dúvidas de que Tera, Abrão e todos os seus parentes se envolviam com as divindades mesopotâmicas (cf. Js 24.15), reforçando o caráter politeísta da sociedade em Ur.
Evidência Histórica
Historicamente, encontramos pistas adicionais sobre essa idolatria familiar por meio de Filo de Alexandria e do historiador judeu Flávio Josefo. Filo comenta que Abrão tinha seu nome atrelado à astrologia (significando algo como “pai da altura”), enquanto Josefo ressalta que ele era hábil no conhecimento dos astros.
O nome de Sarai (posteriormente chamada Sara), esposa de Abrão, também apresenta raízes acadianas relacionadas ao deus-lua Nannar, evidenciando como a cultura de Ur influenciava até mesmo a nomeação das pessoas.
O DEUS DA GLÓRIA APARECE A ABRÃO
Nesse contexto repleto de idolatria, algo extraordinário acontece: o Deus da Glória Se revela a Abrão enquanto ele ainda habitava em Ur dos Caldeus. A referência bíblica para esse encontro está em Atos 7.2, onde Estevão declara que o Senhor apareceu a Abrão e o chamou para sair da sua terra e de sua parentela.
É importante entender a natureza dessa manifestação divina. Abrão não estava buscando o Deus verdadeiro; ele vivia entre adoradores de diversos deuses e, conforme já mencionado, também seguia o fluxo religioso de sua família. Porém, Deus, em Sua graça soberana, toma a iniciativa e se revela a Abrão, rompendo todas as barreiras ao lhe demonstrar o Seu amor.
Então, Deus disse: “Sai-te da tua terra, e da tua parentela, e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei”. Este chamado, no entanto, não era apenas um simples convite; trazia profundas implicações de fé, renúncia e também confiança.
AS IMPLICAÇÕES DO CHAMADO
Responder ao chamado divino é um desafio que envolve diferentes níveis de renúncia. Abrão estava sendo convidado a abandonar as raízes que lhe eram mais caras: sua terra, seus parentes e suas amizades. Para muitos de nós, que vivemos em contextos que nos oferecem conforto, segurança e laços afetivos, essa também se mostra uma decisão nada fácil.
1. Abandonar a Própria Terra
Além da terra de Ur ser fértil e bem organizada, ela oferecia diversos benefícios. Largar tudo isso significava abrir mão da segurança e conforto de Ur, bem como dos recursos médicos, das oportunidades comerciais e da vida cultural pujante que ela tinha a oferecer.
Na Parábola do Semeador, Jesus nos alertou sobre como as riquezas e os cuidados deste mundo podem sufocar a semente da Palavra, impedindo-a de frutificar em nós. Assim como Abrão, muitos crentes hoje são desafiados a não permitir que o “prestígio da cidade” e o conforto material os impeçam de obedecer a um chamado mais elevado da parte de Deus.
Muitos recusam o chamado de Deus porque seus corações estão presos aos bens terrenos. As Escrituras, no entanto, permanecem de pé:
“Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos ou que beberemos ou com que nos vestiremos? Decerto, vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas essas coisas; mas buscai primeiro o Reino de Deus, e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas. Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo” (Mt 6.31-34).
Onde está o seu coração? No “prestígio da cidade”, nos deleites da vida, na sedução das riquezas, nos cuidados deste mundo? Ou seu coração está em Deus e no Seu reino?
2. Abandonar Sua Parentela
Além da terra, Abrão precisaria deixar sua própria família. Ele deveria se separar daqueles que não aceitassem sua nova fé, incluindo seus parentes. Isso porque às vezes os maiores opositores de um chamado divino podem ser nossos próprios familiares. A declaração de Jesus retrata bem esse cenário, ao afirmar que, muitas vezes, os inimigos do homem seriam os da sua própria casa:
“E, assim, os inimigos do homem serão os seus familiares. Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim. E quem não toma a sua cruz e não segue após mim não é digno de mim” (Mt 10.36-38).
Para o leitor contemporâneo, isso ecoa nas escolhas em que nos vemos obrigados a seguir a Cristo mesmo quando parentes próximos nos desencorajam, perseguem ou não compreendem nossa fé. Ser cristão é, muitas vezes, sofrer nas mãos dos familiares que não servem a Deus.
Haverá um tempo em que “o irmão entregará à morte o irmão, e o pai, o filho; e os filhos se levantarão contra os pais e os matarão. E odiados de todos sereis por causa do meu nome; mas aquele que perseverar até ao fim será salvo” (Mt 10.21,22).
A quem você tem dado maior valor, a Deus ou aos parentes?
3. Abandonar Suas Amizades
Outro aspecto duro do chamado de Abrão foi a perda ou o distanciamento das amizades em Ur. Quem iria acompanhá-lo nessa jornada incerta? Deus estava ensinando, com isso, que é necessário se separar das amizades que nos conduzem a práticas contrárias à vontade de Deus.
O apóstolo Tiago pontuou, por exemplo, que a amizade com o mundo é inimizade contra Deus: “Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus” (Tg 4.4).
Não se trata de arrogância ou isolamento extremo, mas de discernimento para saber quando certas parcerias minam nosso compromisso com o Senhor, afinal de contas, que comunhão há entre luz e trevas? Porventura andarão dois juntos se não estiverem de acordo?
Sendo assim, Deus também nos convida a deixarmos para trás as amizades que nos afastam dEle.
4. Envolvia Fé e Confiança em Deus
Abrão precisaria viajar muitos quilômetros até uma terra que ele sequer conhecia. Nesse trajeto ele poderia enfrentar perigos de ladrões, animais selvagens e diversas incertezas do caminho. Sobre isso, Hebreus 11.8 afirma que ele, pela fé, saiu “sem saber para onde ia”, confiando unicamente na promessa divina.
Hoje em dia não é diferente. Muitas vezes também não vemos o todo do plano de Deus, mas somos chamados a confiar nEle passo a passo, lembrando que “sem fé é impossível agradar a Deus” (Hb 11.6).
A Escritura afirma que Deus é bom! Sua vontade também é boa, perfeita e agradável; além disso, os pensamentos que Ele tem a nosso respeito são pensamentos de paz, e não de mal.
Isso significa que embora nem sempre vejamos o final da jornada, o caráter de Deus nos chama a confiar nEle de maneira irrestrita e integral: “Entrega o teu caminho ao Senhor; confia nele, e ele tudo fará” (Sl 37.5).
AS BÊNÇÃOS DO CHAMADO
A obediência a Deus, embora exija sacrifício e renúncia, jamais ocorre sem promessas de bênçãos. Com Abrão não foi diferente:
1. “Farte-ei uma grande nação”
A princípio, essa promessa parecia impossível, pois Sarai era estéril e não podia gerar filhos (Gn 11.30). Ainda assim, Deus trouxe a esperança de que Abrão se tornaria pai de uma grande e numerosa nação.
2. “Abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome”
Ao garantir abençoar Abrão, fica evidente que Deus lhe concederia proteção, provisão e também destaque. Não se tratava de engrandecimento pessoal por vaidade, mas de uma oportunidade de ser influência a fim de cumprir os propósitos divinos. A jornada seria longa, mas o Senhor estaria com ele para o fazer prosperar.
3. “E tu serás uma bênção”
Essa bênção extrapola a vida de Abrão e alcança “todas as famílias da terra”. O chamado de Deus não tem como objetivo apenas abençoar o indivíduo, mas fazer dele um canal de bênçãos para muitos. Somos abençoados para abençoar, consolados para consolar, alcançados para alcançar e edificados, também, para edificar.
4. “Abençoarei os que te abençoarem...”
Há uma dimensão de reciprocidade divina, em que aqueles que reconhecem e acolhem a obra de Deus na vida do Seu servo são igualmente abençoados. Por outro lado, quem se opuser a esse plano poderá experimentar as consequências negativas de sua postura.
A RESPOSTA AO CHAMADO
Diante dessa manifestação divina, Abrão certamente compartilhou o que lhe sucedera com sua família. O que aconteceria a seguir? Será que creriam no seu relato? Talvez fossem levantar oposição... No entanto, ao que tudo indica, Tera creu no chamado que Deus fez a seu filho.
A Bíblia descreve que Tera, pai de Abrão, tomou a iniciativa de partir com parte do clã rumo a Canaã: "E tomou Tera a Abrão, seu filho, e a Ló, filho de Harã, filho de seu filho, e a Sarai, sua nora, mulher de seu filho Abrão, e saiu com eles de Ur dos caldeus, para ir à terra de Canaã" (Gn 11.31).
Ao que parece, o irmão de Abrão, Naor, não creu e ficou para trás, pois seu nome não é mencionado dentre aqueles que saíram de Ur rumo à terra prometida. Por outro lado, Ló, filho do falecido Harã, decidiu acompanhar o tio e o avô.
ESTAGNAÇÃO NA JORNADA PARA CANAÃ
Após deixarem Ur, o clã de Tera percorreu cerca de 900 km em direção ao noroeste, seguindo provavelmente o curso do rio Eufrates, até chegar em uma cidade chamada Harã (cf. Gn 11.31). Ali, decidiram ficar por algum tempo; motivos emocionais, de saúde ou simples fadiga podem ter influenciado essa parada.
Alguns estudiosos também observam que o nome da cidade, Harã, poderia ter despertado lembranças do filho falecido de Tera, que carregava o mesmo nome daquela cidade. Nesse sentido, a idade avançada de Tera somada à sua condição emocional teriam acarretado nessa decisão.
RETOMADA DA JORNADA PARA CANAÃ
Passado algum tempo, Tera faleceu e Abrão veio a se tornar o líder do clã familiar. Finalmente, aos setenta e cinco anos de idade, Abrão retomou a jornada rumo à terra prometida, localizada cerca de 700 km ao sul de Harã.
“Assim, partiu Abrão, como o Senhor lhe tinha dito, e foi Ló com ele; e era Abrão da idade de setenta e cinco anos, quando saiu de Harã. E tomou Abrão a Sarai, sua mulher, e a Ló, filho de seu irmão, e toda a sua fazenda, que haviam adquirido, e as almas que lhe acresceram em Harã; e saíram para irem à terra de Canaã; e vieram à terra de Canaã” (Gn 12.4,5).
Cumprindo-se, pela graça de Deus, o chamado inicial. Naor, ao que tudo indica, permaneceu em Ur, e Tera foi sepultado em Harã, que ficava aproximadamente pouco mais da metade do caminho. Mas Abrão e Ló perseveraram até o fim.
CONCLUSÃO
A narrativa de Abrão nos convida a refletir profundamente sobre nosso próprio relacionamento com Deus. Às vezes, somos chamados a deixar nossa zona de conforto, relacionamentos ou hábitos arraigados para trilhar caminhos desconhecidos. Esse desafio requer obediência, coragem e, sobretudo, fé na promessa de que Deus sustentará cada um dos nossos passos.
Assim como Abrão se tornou uma bênção para muitas gerações, nós também somos chamados a impactar positivamente aqueles que nos cercam. O nosso “sim” pode desencadear mudanças em nossos lares, igrejas, cidades e até mesmo nações inteiras, se o caso envolver missões.
O fato de nem sempre conhecermos todos os detalhes do plano de Deus não deve nos paralisar. Ao contrário, devemos lembrar que “sem fé é impossível agradar a Deus” (Hb 11.6). Às vezes, Ele apenas nos mostra o próximo passo, mas isso já é suficiente para que confiemos em Sua bondade e provisão.
Abrão renunciou a Ur, mas ganhou a promessa de Canaã e se tornou pai de uma grande nação. Quando o Senhor nos pede para abrir mão de algo, Ele sempre tem um propósito maior e melhor. É na renúncia que encontramos um crescimento espiritual e um senso de missão ainda mais profundo. Ouça, portanto, o chamado do Senhor!
Aplicação Prática
Responder ao chamado de Deus nunca foi fácil, mas é onde encontramos propósitos maiores e bênçãos que ultrapassam a esfera do individual para o coletivo. Se hoje você sente Deus chamando-o para algo além dos limites da sua zona de conforto, lembre-se de Abrão. Ele não tinha todos os detalhes, porém possuía o essencial: a voz de Deus e a fé necessária para obedecer.
Que esta história nos inspire a ouvir atentamente a voz do Senhor, a seguir Sua direção, a perseverar mesmo em meio às incertezas e a nos tornarmos instrumentos de bênção onde quer que estejamos. Como você responderá ao chamado divino em sua vida hoje?
Christo Nihil Praeponere – “A nada dar mais valor que a Cristo.”
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