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O PAPEL DOS LUMINARES NA CRIAÇÃO: UM CHAMADO À VIGILÂNCIA

Uma visão majestosa do cosmos, mostrando um planeta iluminado pelo Sol e cercado por estrelas. Representa a criação dos luminares e sua importância divina.
A criação do Sol, da Lua e das estrelas, conforme narrada no relato de Gênesis, carrega muito mais significado do que meras descrições cosmológicas. Em um contexto onde o paganismo exaltava os corpos celestes como deuses, a afirmação de que Jeová os criou é um marco doutrinário que estabelece a supremacia de Deus sobre os deuses egípcios e mesopotâmicos.

Essa narrativa não apenas confronta as crenças politeístas da antiguidade, mas também fornece um fundamento para compreender os propósitos divinos na criação dos luminares.

Neste artigo, exploraremos o papel desses corpos celestes na criação, analisaremos o impacto cultural e espiritual dessa narrativa no contexto histórico de Israel, e refletiremos sobre como essas verdades nos ajudam a discernir os sinais de Deus em tempos passados, presentes e futuros.

TEXTO-BASE


Gênesis 1.14-19

E disse Deus: Haja luminares na expansão dos céus, para haver separação entre o dia e a noite; e sejam eles para sinais e para tempos determinados e para dias e anos. E sejam para luminares na expansão dos céus, para alumiar a terra. E assim foi. E fez Deus os dois grandes luminares: o luminar maior para governar o dia, e o luminar menor para governar a noite; e fez as estrelas. E Deus os pôs na expansão dos céus para alumiar a terra, e para governar o dia e a noite, e para fazer separação entre a luz e as trevas. E viu Deus que era bom. E foi a tarde e a manhã: o dia quarto.

UM GOLPE NO PAGANISMO ANTIGO


O Gênesis foi escrito para os israelitas, que acabavam de ser libertos de um período prolongado de escravidão no Egito, onde o Sol, a Lua e as estrelas eram adorados como deuses. Entre as deidades egípcias, destaca-se Rá, o deus Sol, considerado o criador e governante do cosmos.

A narrativa de Gênesis, ao afirmar que Deus criou esses luminares, nega categoricamente a divindade dos astros e afirma que eles são meras criaturas submetidas ao Criador.

Além do Egito, outras civilizações antigas também reverenciavam os corpos celestes. Na Mesopotâmia, o deus Lua (Sin) e o deus Sol (Shamash) eram centrais na adoração astral. Até mesmo os patriarcas de Israel vieram de um contexto onde esses cultos estavam presentes. Tera, o pai de Abrão, vivia em Ur dos Caldeus, onde a adoração ao deus Lua era predominante.

Esses antecedentes tornam ainda mais impactante a declaração de que os luminares são obra de Jeová.

George H. Livingston observa que o texto bíblico não atribui nomes ao Sol e à Lua, referindo-se a eles apenas como "luminar maior" e "luminar menor". Essa escolha é proposital: demonstra que, diante de Deus, esses astros não têm importância além de cumprir seu papel no plano divino.

Além disso, as estrelas, que eram exaltadas por muitas culturas como símbolos de poder, recebem apenas uma breve menção: "e fez as estrelas". Uma demonstração clara da soberania divina.

PARA SINAIS


O verbo hebraico "avah" (אָוָה), que dá origem ao substantivo "sinal" (oth - אוֹת), significa "assinar, marcar, apontar ou pressagiar" alguma coisa. Nesse contexto, Gênesis está declarando que um dos propósitos dos luminares está no fato de que foram criados para servir como presságios e indicadores de tempos específicos.

Os céus têm desempenhado um papel significativo na revelação divina. Ao tratar dos sinais dos céus, o livro do profeta Jeremias destaca que as nações se atemorizam diante deles. O povo de Deus, porém, é chamado a não ter este tipo de atitude (Jr 10.2).

Marcadores Proféticos

A profecia de Balaão em Números 24.17 menciona, por exemplo, uma estrela como sinal do Messias: "Vê-lo-ei, mas não agora; contemplá-lo-ei, mas não de perto; uma estrela procederá de Jacó, e um cetro subirá de Israel...".

Ora, esse evento foi cumprido séculos depois, quando os magos do Oriente seguiram uma estrela até Jesus, em Belém: "E, tendo nascido Jesus em Belém da Judeia, no tempo do rei Herodes, eis que uns magos vieram do Oriente a Jerusalém, e perguntaram: Onde está aquele que é nascido rei dos judeus? Porque vimos a sua estrela no Oriente e viemos a adorá-lo" (Mt 2.1,2).

Sinais do Fim dos Tempos

No discurso escatológico de Jesus, Ele afirmou que haverá sinais no Sol, na Lua e nas estrelas antes de Sua volta:

"E haverá sinais no sol, e na lua, e nas estrelas, e, na terra, angústia das nações, em perplexidade pelo bramido do mar e das ondas; homens desmaiando de terror, na expectação das coisas que sobrevirão ao mundo, porquanto os poderes do céu serão abalados. E, então, verão vir o Filho do Homem numa nuvem, com poder e grande glória" (Lc 21.25-27).

Joel também profetizou eventos celestiais antes do grande e terrível dia do Senhor (Jl 2.30,31). Esses sinais são descritos como marcadores divinos que apontam para momentos decisivos na história da redenção.

PARA TEMPOS, DIAS E ANOS


Os luminares também foram criados para estabelecer o ciclo natural de tempo, incluindo dias, estações e anos. Isso se deve aos movimentos de rotação e translação da Terra, que regulam o ciclo diário e as estações do ano. Não há necessidade de muitos comentários sobre isso.

APLICAÇÕES PRÁTICAS


  • Discernindo os Sinais. Para os cristãos, os sinais celestiais são lembretes da soberania de Deus e do cumprimento de Suas promessas. Devemos discernir os tempos sem cair em especulações infundadas ou supersticiosas.

  • Chamado à Vigilância. Os sinais nos céus são uma exortação à vigilância espiritual. Assim como os céus declaram a glória de Deus (Sl 19.1), somos chamados a permanecer atentos aos sinais declarados nas Escrituras.

CONCLUSÃO


A criação dos luminares, conforme descrita em Gênesis, é mais do que um relato cosmológico. É uma poderosa declaração que desafia o paganismo e reafirma a soberania de Deus sobre todo o universo. Os propósitos divinos para o Sol, a Lua e as estrelas vão além de iluminar a Terra; eles servem como sinais, marcadores de tempo e lembretes da supremacia divina.

Para as nações, os sinais celestiais podem ser motivo de temor, mas para a Igreja, são evidências do cumprimento do plano de Deus. Que possamos permanecer vigilantes, discernindo os tempos e confiando na soberania daquele que criou os céus e a Terra; afinal, Ele tem todo o domínios nas mãos.

Christo Nihil Praeponere – “A nada dar mais valor que a Cristo.”


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NOTA


¹ LIVINGSTON, George H. Comentário Bíblico Beacon - Gênesis a Deuteronômio. CPAD, Vol. 1, p. 32-33.

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