Desde os primórdios da humanidade a relação entre homem e mulher tem sido um dos temas em destaque na revelação bíblica. No relato da criação vemos que Deus formou a mulher de uma maneira singular, enfatizando não apenas sua origem, mas também seu propósito e dignidade.
Muitas vezes esse episódio tem sido interpretado erroneamente, gerando confusões acerca da posição da mulher em relação ao homem dentro do plano divino. No entanto, ao analisarmos atentamente o texto bíblico, percebemos que Deus criou a mulher para ser sua igual tanto em essência quanto em valor ao homem.
Neste estudo aprofundaremos a narrativa da criação da mulher em Gênesis 2, explorando o significado desse evento à luz das Escrituras e da tradição judaico-cristã. Além disso, veremos como essa verdade impacta nosso entendimento sobre o papel da mulher na sociedade e no plano divino.
TEXTO-BASE
Gênesis 2.18, 21,23
E disse o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma adjutora que esteja como diante dele. Então, o Senhor Deus fez cair um sono pesado sobre Adão, e este adormeceu; e tomou uma das suas costelas e cerrou a carne em seu lugar. E da costela que o Senhor Deus tomou do homem formou uma mulher; e trouxe-a a Adão. E disse Adão: Esta é agora osso dos meus ossos e carne da minha carne; esta será chamada varoa, porquanto do varão foi tomada.
SONO PESADO: O PRIMEIRO PROCEDIMENTO CIRÚRGICO DA HISTÓRIA?
O texto nos revela que, antes de criar a mulher, Deus fez cair um "sono pesado" sobre Adão. Esse detalhe pode parecer secundário à primeira vista, mas alguns comentaristas observaram que Deus atuou, aqui, como o primeiro anestesista e cirurgião da história, realizando um procedimento miraculoso ao retirar uma costela de Adão e fechar a carne em seu lugar.
CRIADA PARA SER IGUAL AO HOMEM
A frase "Far-lhe-ei uma adjutora que esteja como diante dele" pode ser traduzida como "uma auxiliadora que lhe seja correspondente" (NAA). Essa expressão enfatiza que a mulher foi criada como um complemento adequado para o homem, possuindo a mesma dignidade e valor que ele possui.
Ambos foram feitos à imagem e semelhança de Deus (Gn 1.27), o que significa que, embora tenham papéis distintos, são iguais em valor e essência.
A tradição judaico-cristã observa que a forma como Deus criou a mulher tem grande significado simbólico. Segundo um antigo ensinamento judaico, Deus "não tirou Eva do pé de Adão, para que ele não a pisasse; nem da cabeça, para que ela não se visse acima. Mas do lado, para que caminhassem juntos."
Esse conceito ressalta que a mulher não foi feita para ser inferior nem superior ao homem, mas para estar ao seu lado, em parceria e harmonia.
Matthew Henry, em seu comentário sobre Gênesis, complementa essa ideia ao afirmar que "a mulher foi criada de uma costela, do lado de Adão. Não da sua cabeça, para dominá-lo, nem dos seus pés, para ser pisada por ele, mas do seu lado, para ser igual a ele. De debaixo do seu braço, para ser protegida, e de perto do seu coração, para ser amada."¹
Augustus Nicodemus também ressalta essa questão ao comentar que "talvez seja ler muito em uma simples costela, mas não deixa de ser algo poético e extremamente verdadeiro."² Portanto, a narrativa bíblica revela que a mulher foi criada com o mesmo valor e dignidade do homem, estabelecendo um modelo de igualdade e complementaridade dentro do propósito divino.
Essa igualdade em essência e valor não significa, porém, uma ausência de papéis distintos no casamento, mas sim uma parceria onde ambos se complementam e refletem a glória de Deus na vida familiar e na sociedade.
CRIADA PARA SER COMPANHEIRA DO HOMEM
Adão estava sozinho em sua espécie, e Deus declarou claramente: "Não é bom que o homem esteja só" (Gn 2.18). Até este ponto da criação, tudo o que Deus fez foi considerado "bom", mas agora Ele aponta uma necessidade: o homem precisava de uma companheira.
A criação da mulher, portanto, não foi um evento aleatório, pois Deus projetou o ser humano para o relacionamento. Isso também nos lembra que o casamento e as relações interpessoais devem ser fundamentadas no amor, na confiança e na harmonia mútua.
Eva era exatamente o que faltava a Adão: uma companheira para compartilhar amor, comunhão e a intimidade do relacionamento familiar.
CRIADA PARA SER ALIADA DO HOMEM
Antes da criação da mulher, Deus já havia dado algumas responsabilidades a Adão, como cultivar e guardar o jardim (Gn 2.15) e governar a criação (Gn 1.28). Isso significa que a mulher não foi criada como uma figura passiva, mas sim como uma aliada ativa para ajudá-lo em sua missão.
A palavra hebraica usada para "auxiliadora" em Gênesis 2.18 é "ézer", que também é utilizada no Antigo Testamento para descrever a ajuda de Deus ao Seu povo (Sl 121.1,2). Isso demonstra que o papel da mulher não é inferior, mas essencial e de grande valor.
Desta maneira, Adão pode ter "perdido" uma costela, mas em troca recebeu uma auxiliadora idônea, uma parceria indispensável para cumprir os propósitos de Deus na Terra. O homem e a mulher, juntos, completam-se mutuamente e refletem a plenitude da criação divina de forma bela e harmônica.
CONCLUSÃO
Ao analisarmos o relato de Gênesis, percebemos que a mulher foi criada não como uma figura secundária, mas como uma parceira igual em essência e valor ao homem. Sua criação demonstra a sabedoria de Deus ao estabelecer a unidade perfeita entre homem e mulher, destacando a necessidade de comunhão, companheirismo e cooperação.
Esse modelo aponta para algo ainda maior: a relação entre Cristo e Sua Igreja, onde o amor, a unidade e a parceria são os pilares fundamentais (Ef 5.25-32). Assim como Cristo se entregou por Sua Noiva, a Igreja, a relação entre homem e mulher deve ser pautada no amor sacrificial, no respeito mútuo e na valorização de suas diferenças e semelhanças.
Que possamos reconhecer e honrar o plano de Deus para o relacionamento humano, compreendendo que, dentro da vontade divina, homem e mulher foram criados para caminhar juntos, refletindo a glória de Deus na Terra.
Christo Nihil Praeponere – “A nada dar mais valor que a Cristo.”
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NOTAS
¹ HENRY, Matthew. Comentário Bíblico do AT - Gênesis a Deuteronômio. CPAD, 2020, p. 17.
² NICODEMUS, Augustus. No Princípio de Tudo. Vida Nova, 2022, p. 128.
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