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DIETA BÍBLICA: A ALIMENTAÇÃO ANTES E DEPOIS DO DILÚVIO

Imagem de frutas, verduras e legumes frescos ao lado da frase 'Adão e Eva eram veganos?', destacando a reflexão sobre a dieta original da humanidade no Jardim do Éden.
Você já imaginou um mundo onde leões, lobos e tigres fossem herbívoros? O relato bíblico nos mostra que, no princípio, toda a criação seguia uma dieta exclusivamente vegetal. Mas o que será que mudou com A Queda e o Dilúvio?

A verdade é que a alimentação sempre teve um papel significativo na história bíblica, e uma análise detalhada das Santas Escrituras nos permite compreender as transformações divinamente ordenadas ao longo do tempo.

Não apenas uma necessidade biológica, a alimentação também se mostra como um reflexo da ordem estabelecida por Deus para sua criação. Examinemos como a Bíblia descreve essa progressão e o que isso nos ensina sobre o relacionamento entre Deus, a humanidade e também os animais.

A DIETA ORIGINAL NO ÉDEN: A PRESCRIÇÃO DIVINA


A Palavra de Deus nos apresenta um cenário inicial em que Deus prescreveu a dieta dos seres humanos e dos animais logo após a criação. É no primeiro capítulo de Gênesis que encontramos a seguinte instrução:

"E disse Deus: Eis que vos tenho dado toda erva que dá semente e que está sobre a face de toda a terra e toda árvore em que há fruto de árvore que dá semente; ser-vos-ão para mantimento. E a todo animal da terra, e a toda ave dos céus, e a todo réptil da terra, em que há alma vivente, toda a erva verde lhes será para mantimento. E assim foi" (Gn 1.29,30).

Este trecho nos revela que a alimentação prescrita por Deus era exclusivamente de origem vegetal, tanto para os seres humanos quanto para os animais. O plano divino era que toda a criação subsistisse sem o consumo de carne. Em outras palavras, não havia a necessidade de morte para a manutenção da vida.

Essa dieta completamente vegetal nos leva a uma reflexão interessante: antes da Queda, Adão e Eva seriam considerados veganos ou não? Embora o veganismo moderno inclua um compromisso ético que vai além da alimentação, o relato bíblico indica que a humanidade seguia uma alimentação puramente vegetal, sem exploração animal de nenhum tipo até os tempos do Dilúvio.

Veganismo e Vegetarianismo: Há Diferença?

Para compreendermos melhor essa questão faz-se necessário diferenciarmos dois conceitos modernos:

  • Vegetarianismo. Refere-se a uma dieta baseada exclusivamente em alimentos de origem vegetal, mas não necessariamente exclui o uso de produtos de origem animal, como vestimentas de couro ou cosméticos testados em animais.

  • Veganismo. Refere-se a um estilo de vida que evita qualquer forma de exploração animal, seja na alimentação, vestuário ou outros aspectos do cotidiano.

Não podemos afirmar com certeza se Adão e Eva eram "veganos" no sentido estrito da palavra, mas sabemos que, antes do pecado, a humanidade não consumia carne e não havia registros do uso de produtos de origem animal. Contudo, com a entrada do pecado, isso mudou.

Em Gênesis 3.21 vemos o primeiro registro bíblico do uso de pele animal para vestimentas: "E fez o Senhor Deus a Adão e à sua mulher túnicas de peles, e os vestiu." 

Esse versículo mostra que, pela primeira vez, um animal foi morto a fim de cobrir a vergonha da nudez do primeiro casal; o que também simboliza a necessidade de um sacrifício pelo pecado. No entanto, também fica claro que, após A Queda, a relação entre os seres humanos e os animais começou a mudar.

Nesse sentido, ao que tudo indica, Adão e Eva foram veganos enquanto viveram no jardim do Éden, mas se tornaram vegetarianos após a entrada do pecado no mundo.

O IMPACTO DO PECADO NA ALIMENTAÇÃO HUMANA E ANIMAL


A entrada do pecado no mundo alterou drasticamente não apenas a condição espiritual do homem, mas toda a criação. Isso incluiu mudanças no comportamento humano e animal, o que pode explicar por que certos animais, antes herbívoros, passaram a se tornar carnívoros ou onívoros.

O texto de Gênesis 1.30 afirma claramente que, no início, toda a fauna subsistia de ervas e vegetais. Isso inclui leões, tigres, lobos e outros que, hoje, são conhecidos por sua dieta carnívora. Essa transformação provavelmente ocorreu como parte das consequências do pecado sobre a criação.

Paulo, apóstolo dos gentios, deixou claro "que toda a criação geme e está juntamente com dores de parto até agora" (Rm 8.22); e isso por causa da entrada do pecado no mundo. No entanto, haverá um tempo de restauração (At 3.21), conforme veremos mais à frente.

A DIETA PÓS-DILUVIANA E A PERMISSÃO PARA CONSUMIR CARNE


Observa-se que após A Queda, como já destacado anteriormente, a dieta humana permaneceu vegetariana por um longo período. No entanto, algo significativo aconteceu após o Dilúvio. Foi somente após Noé e sua família saírem da arca que Deus permitiu, de maneira expressa, que a humanidade consumisse carne:

Tudo quanto se move, que é vivente, será para vosso mantimento; tudo vos tenho dado, como a erva verde" (Gn 9.3). 

O comentarista Warren Wiersbe destaca essa mudança como uma ampliação da dieta humana: "Quando Deus colocou Adão e Eva no jardim, deu-lhes frutas e plantas para alimento, mas, depois do dilúvio, ampliou a dieta dos seres humanos, incluindo a carne."¹ Ainda assim, essa permissão veio acompanhada de restrição.

Uma Restrição Importante

Embora Deus tenha concedido aos homens o direito de comer carne, Ele proibiu o consumo do sangue: "A carne, porém, com sua vida, isto é, com seu sangue, não comereis" (Gn 9.4).

O pastor e comentarista Hernandes Dias Lopes observa que essa proibição estava diretamente ligada ao valor simbólico do sangue na Bíblia: "É importante destacar que o sangue é equiparado à vida no Antigo Testamento. Nas palavras de Henry Morris, 'a carne foi dada para alimento, mas a vida da carne, o sangue, era dada para o sacrifício' (Lv 17.11)."²

Essa proibição foi reiterada tanto na Lei Mosaica quanto no Novo Testamento: "Na verdade, pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor mais encargo algum, senão estas coisas necessárias: Que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos ídolos, e do sangue, e da carne sufocada, e da fornicação; destas coisas fareis bem se vos guardardes" - Atos 15.27-29

VISÃO PROFÉTICA: O RETORNO À HARMONIA ORIGINAL


Outro aspecto interessante é que a Bíblia não nos mostra apenas a mudança na alimentação ao longo da história, mas também nos dá um vislumbre do futuro. Durante o futuro Milênio haverá uma restauração da criação, de maneira que os animais voltarão a se alimentar de vegetais:

"O lobo e o cordeiro se apascentarão juntos, e o leão comerá palha como o boi... Não farão mal nem dano algum em todo o meu santo monte, diz o Senhor" (Is 65.25). 

Tal profecia nos revela que, durante o reinado milenar, a criação será restaurada à sua harmonia original. O ciclo de morte e violência será interrompido, e os animais voltarão a viver pacificamente, assim como nos tempos do jardim Éden. Sobre o tema, Isaías ainda afirma:

"Morará o lobo com o cordeiro, e o leopardo com o cabrito se deitará, e o bezerro, e o filho de leão, e a nédia ovelha viverão juntos, e um menino pequeno os guiará. A vaca e a ursa pastarão juntas, e seus filhos juntos se deitarão; e o leão comerá palha como o boi. E brincará a criança de peito sobre a toca da áspide, e o já desmamado meterá a mão na cova do basilisco. Não se fará mal nem dano algum em todo o monte da minha santidade, porque a terra se encherá do conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar" - Isaías 11.6-9

CONCLUSÃO


A análise detalhada dos textos bíblicos nos revela não apenas a dieta pré-diluviana, mas também como a permissão para o consumo de carne partiu da parte de Deus após a catástrofe do Dilúvio. Mesmo assim, a Bíblia mantém uma restrição importante em relação ao consumo de sangue, reforçando o princípio do valor da vida.

Além de alimentar reflexões teológicas, esse tema nos convida a considerar o plano de Deus para a humanidade e a criação. O pecado trouxe corrupção e violência, mas a promessa bíblica aponta para um tempo de restauração e paz.

Você crê na Palavra de Deus? Quanto mais os dias avançam, mais nos aproximamos do cumprimento dessas profecias. Que possamos, portanto, refletir sobre nossa responsabilidade diante da criação e nos preparar para o que há de vir.

Christo Nihil Praeponere – “A nada dar mais valor que a Cristo.”


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NOTAS


¹ LOPES, Hernandes Dias. Gênesis - O Livro das Origens. Hagnos, 2021, p. 189.

² WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo, Vol 1. 2006, p. 67.

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